A Venezuela aos Venezuelanos
Por Anderson Loureiro*
O humorista e músico carioca, Juca Chaves, conta uma anedota sobre as hienas. Diz o artista que elas comem restos, carniças de outros animais, bichos podres e no final ele pergunta: Afinal, as hienas riem de quê?
No mundo polarizado entre ricos, cada vez mais ricos, e a população cada vez mais pobre, os primeiros jamais vão reconhecer socialmente os segundos. Pelo contrário, se possível ainda vão piorar as suas condições de vida e de sobrevivência, pois, fora do mercado que se danem todos. Na verdade os ricos são ricos à custa dos pobres, quando negam os direitos e os benefícios sociais às classes trabalhadoras. Um tipo de escravização moderna.
Quando o governo da Venezuela cria políticas capazes de fomentar e distribuir a riqueza vinda do petróleo, está reconhecendo que aquele combustível é um bem de toda a nação e é justamente em benefício dos mais pobres que ele deve ser usado. O petróleo da Venezuela é do povo venezuelano.
Enquanto isso, os países ricos, ávidos por serem ainda mais ricos, pressionam, mentem e desestabilizam politicamente o governo, com o objetivo de botar na presidência alguém alinhado com o entreguismo e com a subserviência, típicas e históricas da América do Sul.
A mídia, por sua vez, vendida barra comprada, fala em autoritarismo e ditadura, oportunizando que o país rico da vez se ofereça como a salvação daquele povo dito oprimido, desconsiderando, propositalmente, que aquele povo vai muito bem obrigado, tendo os seus direitos sociais preservados, com índices de saúde e educação bem melhores do que o Brasil, por exemplo, só pra citar um.
É claro que os EUA não estão nem um pouco preocupados com o povo venezuelano. Tampouco o Brasil está preocupado com alguma democracia. É claro também que os dois querem a Venezuela entregando todo o petróleo de bandeja aos estadunidenses, como aliás o próprio Brasil já vem fazendo de uns dois anos pra cá. Por isso as sanções econômicas motivadas por uma suposta ditadura são usadas pra pressionar o governo Maduro. Assim, de um lado temos as sanções dos EUA, que prejudicam o povo venezuelano. Do outro, os mesmos EUA oferecem “ajuda humanitária” diante da situação precária causada justamente pelas sanções econômicas impostas. E dá-lhe mídia vendida pra contar essa história de modo enviesado e enaltecer os caubóis libertadores e democratas.
Finalmente, a diferença entre o povo venezuelano e o brasileiro, neste caso, já que ambos possuem autonomia do petróleo, é que lá, ao menor sinal de interferência ou desestabilização do seu governo popular e trabalhista, a população sai às ruas em peso e defende o seu país, o seu petróleo e a sua autonomia enquanto nação.
No Brasil, a população elege, apoia e festeja um governo que entrega as suas riquezas aos países ricos, enquanto assiste a retirada de direitos, de benefícios sociais, a extinção da saúde e da educação públicas e vivencia diariamente o sarcasmo de uma economia que, mais uma vez, só beneficia os ricos cada vez mais ricos. Uma realidade que certamente faria com que o famoso Juca Chaves perguntasse: Essa gente ri de quê?
Enquanto o povo pobre da Venezuela luta pelos seus direitos, no Brasil o povo pobre luta – e vota – pelos direitos dos ricos, por um governo que vai lhe sufocar, por um sistema que cede tudo aos ricos e escraviza os pobres. O que se vê por aqui, com a bênção da mídia comprada barra vendida, é o perdão das dívidas monumentais das grandes corporações, o relaxamento nos crimes de todos os tipos praticados contra as populações pobres e periféricas, os negros e os índios. E segue a cantilena das riquezas naturais do país serem de posse somente dos ricos.
Para a grande maioria da população brasileira parece restar apenas as carcaças, os restos, as carniças de outros animais e os bichos podres. A parte putrefata de uma equação torpe e excludente, onde os ricos matam os pobres todos os dias.
Mas o povo brasileiro ainda ri. E nem tem mais o Juca pra perguntar de quê.
*Servidor público do Ibram
Foto: Twitter/Fotos de Fatos