Aumento do diesel chega a 165,6% desde 2019, mas Bolsonaro finge não ter nada com isso
Bolsonaro não muda a política de preços da Petrobras para não desagradar os acionistas, diz FUP. Líder de caminhoneiros se diz indignado
Anunciado ontem (9), o novo aumento no preço do diesel nas refinarias, de 8,87%, provocou indignação dos caminhoneiros. A Federação Única dos Petroleiros (FUP) afirmou que “é mais uma medida com impactos cruéis sobre a inflação”. Segundo o coordenador-geral da FUP, Deyvid Bacelar, a alta “contribui ainda mais para a explosão dos preços da comida dos brasileiros”.
A inflação, que não para de subir desde meados de 2020, já corroeu um terço do poder de compra dos salários, considerando-se o período a partir de 2017. “Bolsonaro mente mais uma vez quando diz não poder mudar o PPI, política que reajusta preços de acordo com a variação do petróleo no mercado internacional, oscilação cambial e custo de importação”, diz Bacelar no site da entidade.
De acordo com a FUP, só no governo Bolsonaro, de janeiro de 2019 até hoje, a gasolina já acumula 155,8% de aumento nas refinarias, o diesel subiu 165,6%, e o GLP aumentou 119,1%, com o preço médio do botijão de gás de cozinha acima de R$ 120,00.
Apesar de Bolsonaro agora criticar a alta do preço, este não é fixado por lei, como o chefe de governo quer fazer crer, “tentando tirar o corpo fora do problema”, anota a FUP. Em artigo no Uol, o jornalista Leonardo Sakamoto ironiza: “o Bolsonaro de quatro anos atrás apoiaria protestos contra o Bolsonaro de 2022 por conta do aumento no preço do diesel. Mas o Jair de hoje terceiriza a responsabilidade para a Petrobras, como se ele ainda não fosse presidente, mas candidato à Presidência”.
Em 2018, Bolsonaro defendeu que “apenas a paralisação (que estava sendo organizada na época) poderá forçar o presidente da República a dar uma solução para o caso”, conforme disse o Bolsonaro candidato na ocasião. Em maio daquele ano, o protesto do então postulante à Presidência era contra o aumento do preço médio do litro do diesel nas refinarias de R$ 2,3488 para R$ 2,3716.
Caminhoneiro arrependido
Já a Associação Brasileira dos Condutores de Veículos Automotores (Abrava), em nota, afirmou que “essa luta pelo fim do PPI não é só dos caminhoneiros, mas sim de toda a população brasileira, principalmente os mais vulneráveis e a classe média”. O presidente da Abrava, Wallace Landim, conhecido como Chorão, é apoiador “arrependido” de Bolsonaro. Ainda em 2018, o líder dos caminhoneiros disse que sua categoria foi “traída” por Bolsonaro e declarou, à época, que se arrependera de ter apoiado o vencedor da eleição em 2018.
Em vídeo distribuído hoje à sua base, o dirigente declarou-se “indignado” com o reajuste do diesel. “Gente, não podemos ficar quietos”, afirmou. “Nós precisamos fazer alguma coisa.”
A FUP diz que Bolsonaro é “cara de pau” ao se dizer “indignado” com a alta dos preços praticados pela gestão da Petrobras de seu próprio governo. A estatal, uma empresa de economia mista, é controlada pelo Estado brasileiro. “Sem o menor constrangimento, o presidente Bolsonaro ainda debocha da situação, ao esconder que o único responsável pelos aumentos absurdos nos preços dos combustíveis é ele mesmo”, continua a entidade.
- Capa: Apesar de Bolsonaro agora criticar a alta do preço, este não é fixado por lei, como o chefe de governo quer fazer crer/Foto: Marcello Casal, Agência Brasil
Fonte: Rede Brasil Atual