Dossiê “Os Invasores” identifica 42 políticos e seus familiares com fazendas incidentes, entre eles um senador, dois deputados federais, um governador e três prefeitos; cúpula ruralista e Bolsonaro receberam doações de empresários com sobreposições em TIs
Por Luís Indriunas*
Segunda parte do projeto “Os Invasores” mostra participação de políticos em sobreposições.[/caption]
O relatório está disponível na íntegra aqui.O evento de lançamento acontece hoje no Cine Petra Belas Artes, em São Paulo, e conta com a exibição do filme “Vento na Fronteira”, documentário premiado que apresenta um conflito entre fazendeiros e o povo Guarani Kaiowá na fronteira do Brasil com o Paraguai: “De Olho nos Ruralistas lança 2ª parte do projeto ‘Os Invasores’ no Cine Belas Artes“.FAZENDEIROS COM SOBREPOSIÇÕES FINANCIARAM RURALISTAS E BOLSONARO
A primeira parte do dossiê, divulgada no dia 19 de abril, apontou os nomes de empresas nacionais e estrangeiras entre as 1.692 sobreposições de fazendas em 213 terras indígenas, que totalizavam 1,18 milhão de hectares — tamanho igual ao do território do Líbano. Na segunda parte, a equipe do observatório rastreou quais destes sócios doaram para políticos nas campanhas de 2022; no caso de 54 dos 81 senadores, também de 2018.Dezoito integrantes da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) receberam R$ 3,6 milhões em doações de campanha desses invasores. Entre eles estão o presidente da frente, Pedro Lupion (PP-PR), os vice-presidentes Arnaldo Jardim (Cidadania-SP) e Evair Vieira de Melo (PP-ES), a coordenadora política Tereza Cristina (PL-MS), ex-ministra da Agricultura, e outros oito diretores.Outro destaque do relatório são os invasores que investiram em peso na candidatura derrotada de Jair Bolsonaro (PL) à reeleição. Juntos, 41 fazendeiros com sobreposições doaram R$ 1,2 milhão para sua campanha. Eles controlam uma área de 107.847,99 hectares, incidente em 23 áreas demarcadas pela Funai.SENADOR TEM FAZENDA GRILADA EM ÁREA DE INDÍGENAS ISOLADOS
Aliado de Bolsonaro, Jaime Bagattoli é dono de fazenda grilada em Rondônia. (Foto: Divulgação)[/caption]
Mapa aponta grilagem de antigos proprietários da Fazenda São José. (Imagem: De Olho nos Ruralistas)[/caption]DEPUTADO DE MINAS TEM FAZENDA DENTRO DA TI KAXIXÓ
O deputado Newton Cardoso Jr. (MDB-MG), um dos 27 vogais da FPA, é sócio junto com o pai, o ex-governador Newton Cardoso, o Newtão, da Companhia Siderúrgica Pitangui, empresa que reivindica uma série de fazendas no norte de Minas. A empresa aparece nos registros do Incra como titular das Fazendas Crisciúma e Capão, em Martinho Campos (MG). As duas encontram-se completamente sobrepostas ao território do povo indígena Kaxixó: a primeira com 460,20 hectares, a segunda com 373,84.Historicamente, o deputado mineiro é ligado à defesa dos setores siderúrgico e de silvicultura, além de manter uma empresa de pecuária bovina. Com suas empresas devendo R$ 190,6 milhões à União, Newton Cardoso Jr. foi relator da Medida Provisória que alterou as regras do Programa de Recuperação Fiscal (Refis), em 2017, durante o governo Temer. O parlamentar também foi autor de um projeto, que propõe acabar com a obrigatoriedade do licenciamento ambiental prévio e dos estudos de impacto para áreas de reflorestamento.No norte de Minas Gerais, próximo da divisa com a Bahia, ele e o pai são donos de fazendas de reflorestamento. A siderúrgica da família utiliza carvão vegetal proveniente do reflorestamento com eucalipto dessas fazendas.Em 2017, mais uma vez legislando em causa própria, Newton Cardoso Júnior votou a favor da Medida Provisória 759, conhecida como “MP da Grilagem”, que dava brechas para a legalização de áreas públicas invadidas.DILCEU SPERAFICO PROTAGONIZA CONFLITOS COM POVO GUARANI KAIOWÁ
O deputado Dilceu Sperafico (PP-PR) é proprietário, ao lado dos irmãos, da Fazenda Maracay, de 4.418 hectares, em Amambaí (MS). A área de plantio de soja ultrapassa a divisa da TI Iguatemipegua I, reivindicada pelo povo Guarani Kaiowá.
Ruralista da velha guarda, Dilceu Sperafico voltou à Câmara em 2022. (Foto: Agência Câmara)[/caption]FAMÍLIA DO GOVERNADOR RATINHO JR. DISPUTA TERRAS COM INDÍGENAS NO ACRE
Governador Ratinho Jr posa com cocar durante evento do 19 de abril. (Foto: Divulgação)[/caption]
Latifúndio do apresentador Ratinho avança sobre TIs Kaxinawá da Praia do Carapanã e Rio Gregório, no Acre. (Imagem: De Olho nos Ruralistas)[/caption]PREFEITOS E VICES COMANDAM LATIFÚNDIOS EM TERRAS INDÍGENAS
Três prefeitos e dois vice-prefeitos de municípios do Sudeste e Centro-Oeste integram a lista de fazendas sobrepostas a terras indígenas. Eles se somam a outras dezenas de chefes municipais do Executivo com esse tipo de incidência.
Prefeito Carlos Alberto Capeletti participou de acampamentos golpistas após vitória de Lula, em 2022. (Foto: Reprodução)[/caption]MATO GROSSO DO SUL CONCENTRA SOBREPOSIÇÕES DE POLÍTICOS
Dono da maior desigualdade fundiária do país, com 92% das terras agrícolas em mãos privadas, o Mato Grosso do Sul lidera o ranking geral de sobreposições de fazendas em terras indígenas registradas pelo projeto “Os Invasores”: acumula 630 dos 1.692 casos analisados. E concentra o maior número de políticos envolvidos em disputas territoriais contra povos indígenas.
Advogada recebeu doações de fazendeiros em conflito com indígenas no Mato Grosso do Sul. (Imagem: Divulgação)[/caption]OBSERVATÓRIO DESTACA CASOS EM SÉRIE DE REPORTAGENS
As 1.692 sobreposições em terras indígenas reveladas pelo projeto “Os Invasores” comprovam que a violação dos direitos indígenas não é um mero subproduto do capitalismo agrário. Por trás dessa política de expansão desenfreada sobre os territórios tracionais estão alguns dos principais líderes do agronegócio.Essa interface política não ocorre apenas no Legislativo. Eles ocupam cargos públicos nos três poderes, garantindo a manutenção do sistema político ruralista que vigora no Brasil há pelo menos dois séculos.Confira abaixo o vídeo de lançamento da segunda parte do relatório: Os casos descritos na pesquisa estão sendo explorados também em uma série de vídeos e reportagens deste observatório. Com detalhes — muitos deles complementares ao dossiê — sobre as principais teias empresariais e políticas que conectam os “engravatados”, em cada setor econômico, legal ou ilegal.Fonte: De Olhos nos Ruralistas*Luís Indriunas é editor e roteirista do De Olho nos Ruralistas.

