A data oficial da abolição da escravidão no Brasil marca, na verdade, uma falsa libertação, que abandonou homens e mulheres negros à própria sorte, sem terra, trabalho ou dignidade. A chamada "abolição" ocorreu sob interesses econômicos, sem políticas públicas, reparação ou inclusão — e perpetuou o racismo estrutural que segue devastando vidas até hoje.
Em pleno século 21, a realidade de Sônia Maria de Jesus revela que a escravidão ainda resiste, protegida por estruturas de poder e um Judiciário conivente. Mulher negra, surda, levada da casa dos pais quando criança e confinada por mais de 40 anos em condições análogas à escravidão, Sônia é símbolo da barbárie que insiste em se esconder sob capas de autoridade e silêncio institucional.
Amanhã, 13 de maio, às 15h, o Movimento Negro Unificado – Núcleo SC convoca sindicatos, estudantes, movimentos sociais e toda a população a participarem de uma manifestação silenciosa em frente à Câmara de Vereadores de Florianópolis. Com faixas e cartazes, protestaremos por 51 minutos — tempo que representa a idade de Sônia Maria de Jesus, símbolo de uma luta que ainda não terminou.
Não há liberdade sem justiça! Não há justiça sem Sônia livre!
Leia o manifesto na íntegra:
LIBERDADE DE SÔNIA MARIA DE JESUS!
Leia com atenção e entenda o que aconteceu e está acontecendo com SÔNIA:
Sônia, mulher negra, hoje com 50 anos, nascida em 28/12/1973, com deficiência auditiva (surdez bilateral), foi retirada da casa dos pais, na cidade de São Paulo, com 8 ou 9 anos, em decorrência de episódios de violência doméstica causados por seu pai. A mãe, Dona Deolina, concordou em afastá-la do lar para que fosse morar com a sogra do desembargador Jorge Luiz Borba até que a violência cessasse. Mas, desde então, nunca mais conseguiu reencontrar a filha.
Após aproximadamente um ano, Sônia foi levada para a casa do desembargador, que morava em Blumenau (SC), passando a viver com ele e sua família desde então.
Tal mudança ocorreu por ocasião do nascimento da primeira filha do casal Borba.
Ou seja, ela foi retirada de casa e nunca mais voltou. Um fato absurdo, pois não houve qualquer autorização judicial — seja por meio de guarda, curatela ou adoção — que autorizasse a permanência de Sônia com a família Borba em São Paulo e, depois, a transferência dela para outro estado.
Sendo assim o desembargador permaneceu sem qualquer autorização judicial que legitimasse a guarda de Sônia ao longo de sua vida.
A família de Sônia só tomou conhecimento de sua condição após denúncia de trabalho análogo à escravidão, veiculada nos noticiários em 2023.
A mãe, Dona Deolina, passou grande parte de sua vida procurando sua filha nos endereços de que dispunha, sem nunca encontrá-la. Dona Deolinda faleceu em 2016, sem rever ou reaver Sônia.
Saímos à rua nesta data pois consideramos uma afronta e um crime aos Direitos Humanos cometido pela família Gayotto-Borba! Sônia não teve infância, adolescência, vida adulta e, se as coisas continuarem como estão, nem terá terceira idade com dignidade.
Ao longo dos anos, Sônia não acessou a educação escolar, não recebeu salário, assim como não foi permitido o desenvolvimento de sua autonomia ou a relação com sua família. Sônia foi confinada na residência do desembargador de Santa Catarina Jorge Luiz Borba e até hoje é impossibilitada de retomar a relação com seus familiares. Consideramos que as condições vividas por Sônia configuram-se como escravidão!
Logo após a denúncia de trabalho análogo à escravidão veiculada na mídia, Sônia foi encaminhada para uma casa de acolhimento, foi atendida pela Associação de Surdos de Florianópolis e submetida a exames médicos e psicológicos. Foram detectados inúmeros problemas de saúde, o que demonstra as condições vividas por ela nestas quatro décadas. Ainda assim, o ministro Campbell Marques autorizou o retorno de Sônia à casa de seu algoz.
Fazemos este ato para tornar pública a injustiça cometida contra Sônia e sua família, que aguarda seu retorno ao convívio familiar. Denunciamos a Justiça catarinense e brasileira. Denunciamos o corporativismo do judiciário.
É inconcebível que estejamos vivendo escravidão e cárcere privado no Século 21!
Exigimos revisão dos atos jurídicos já impetrados. Exigimos a liberdade de Sônia Maria de Jesus, pois ela não é propriedade do Desembargador Borba e sua família.
Eles, que usam ainda bordões do tempo da escravidão colonial e pós-colonial, dizem: “ela é como se fosse da família”. E, sendo assim, a mantêm no quarto do fundo do pátio, sem salário, escolaridade ou atendimento de saúde.
Se Trabalho Escravo é Crime, queremos o imediato retorno de Sônia para sua família! E que se cumpra a lei para os culpados pela privação de estar com os seus!
Basta de racismo e capacitismo na justiça catarinense e no STJ!
Racismo, trabalho escravo e exploração de pessoas com deficiência são crimes no Brasil! Diante de tantas denúncias, por que não há réus presos? O que há são os colarinhos brancos se auto protegendo e defendendo.
Chamamos a todos os movimentos a se somarem a esta luta! Não podemos nos calar diante do racismo do judiciário brasileiro!
Racismo e trabalho escravo são crimes no Brasil! Justiça, cumpra seu papel!
✊ Libertem Sônia Maria de Jesus!
#SONIALIVRE